sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Projeto Missionário Pentecostal


Não seria exagero dizer que os pentecostais constituem o povo mais apaixonado por missões. Há um apego deliberado aos textos sagrados, onde aparece a chamada Grande Comissão. Vemos na Bíblia de Estudo Pentecostal que essa incumbência compromete todos os seguidores de Cristo, em todas as gerações, também declara o alvo, a responsabilidade e a outorga da tarefa missionária da Igreja.
Para os editores da BEP, a igreja deve ir a todo o mundo e pregar o Evangelho a todos, em conformidade com a revelação do Novo Testamento, da parte de Cristo e dos apóstolos. Essa tarefa inclui a responsabilidade primordial de enviar missionários a todas as nações (At 13.1-4).
Os pentecostais entendem que a intenção de Cristo não é simplesmente o crescimento numérico de sua Igreja e nem cristianização da sociedade ou muito menos assumir o controle do mundo, mas, sim, que seus seguidores façam discípulos Dele. Entretanto, ressalvam que os seguidores obedientes de Jesus devem ir a todas as nações e testemunhar somente depois que do alto sejam revestidos de poder conforme Lucas 24.49 e Atos 1.8.
John V. York também faz essa mesma análise quando declara que os pentecostais “vêem o poder do Espírito Santo não como algo emocional, mas como uma benção disponível a todos os crentes verdadeiros como um meio de realizar a colheita. E este mesmo Espírito os capacitará para ministrar às necessidades dos que clamam enquanto levam o Evangelho a todas as nações”.
O pastor Loren Triplet, diretor executivo da Divisão de Missões Internacionais das Assembléias de Deus, em Springfield, Missouri, Estados Unidos, em seu texto De volta ao básico em Missões, expõe que o Movimento Pentecostal sempre levou a sério esse mandato de ir até os confins da Terra. Para ele, a Grande Comissão não se trata de uma grande sugestão; é uma ordem inalterável e literal. Certos fatores básicos fornecem os fundamentos de nossa visão e dever mundiais a todos os povos da Terra. Triplet nos lembra que o derramamento do Espírito Santo, ocorrido no início do século 20, assumiu responsabilidades e visão missionárias imediatas. Havia uma força motriz dentro daquele avivamento que só pode ser explicado pelo poder do Espírito.
O novo avivamento pentecostal espalhou-se rapidamente ao redor do mundo. Triplet vai fundo em seu conceito quando preceitua que o pastor pentecostal cumprirá melhor suas responsabilidades da Grande Comissão se entender e praticar a verdade da capacitação da Grande Comissão. O missiólogo americano é contundente: “O pastor pentecostal que não leva a igreja a obedecer mundialmente à Grande Comissão é, em termos, uma contradição. O pastor pentecostal terá um coração missionário e reconhecerá que recebeu esse coração missionário, quando foi batizado com o Espírito Santo. Ser pentecostal é ser missionário”.
George W. Peters apresenta o conceito defendido por W. O. Carver que define missões como “a extensa realização do propósito redentor de Deus em Cristo Jesus através de mensageiros humanos”. Para o próprio Peters, “Missões é a objetivação progressiva do propósito eterno e benevolente de Deus que se origina em seu próprio ser e caráter e envolve todas as eras, raças e gerações. (...) É a efetivação histórica da salvação de Deus obtida em nome de toda humanidade através de Cristo Jesus devido a sua encarnação, morte e ressurreição. (...) É a realização prática da obra do Espírito Santo neste mundo em nome do eterno propósito de Deus e da aplicação efetiva da salvação, obtida através de Cristo Jesus nas vidas de inúmeros indivíduos, tribos, povos e inúmeras famílias”.

Opção Pelo Engajamento

O projeto missionário pentecostal parece ser o que mais privilegia o trabalho de cada crente das milhares comunidades de fé esparramadas pelo mundo. As igrejas que vivem o genuíno Movimento Pentecostal estimulam seus membros à verdade de que missões não é tarefa de um grupo seleto de clérigos.
Cada crente é desafiado a ser uma testemunha de Jesus por ter a virtude do Espírito e simplesmente por que Jesus determinou que fôssemos até os confins da Terra (At 1.8). Vemos que, ao agirem assim, os pentecostais mostram, mesmo que inconscientemente, que o modo de entender missões remonta ao que Deus fizera com o movimento dos irmãos morávios, liderados pelo conde Nicolaus Ludwig von Zinzendorf.
A esse respeito Kenneth Latourette afirmou que o século 19 (grande século das Missões) foi marcado pelo despertamento missionário. Naquela época, esse movimento deu uma nova vitalidade às Missões devido às suas características peculiares:
(1)Cada cristão deveria entregar-se totalmente a Cristo para trabalhar em qualquer lugar do mundo e com total amor à família humana.
(2)Cada cristão é um missionário e deve compartilhar sua fé onde está.
(3)Cada missionário é um trabalhador e sustenta a si próprio e sua família.
Teólogos respeitados do Movimento Pentecostal implicitamente admitem a missio Dei, mas sempre enfatizam a necessidade do revestimento de poder para realizar a missão de Deus.
Na obra Teologia Sistemática, editada por Stanley Horton, vemos o capítulo escrito por Byron D. Klaus (Presidente do Seminário Teológico da Assembléia de Deus em Springfield, Missouri) no qual cita que para o cristão realmente entender o que ele realmente é, faz-se indispensável a afirmação de que a missão da reconciliação, revestida pelo poder do Espírito Santo, fornece a essência de nossa identidade: “Somos um povo vocacionado e revestido pelo poder do alto (At 1.8) para sermos cooperadores de Cristo na sua missão redentora”. Klaus cita Ernest Swing Williams, que, corroborando com essa idéia, defende que, a partir desse raciocínio, “o que significa ser um pentecostal está pelo menos parcialmente incorporado à avaliação da natureza e do resultado do batismo no Espírito Santo, conforme registrado em Atos 2. Os pentecostais têm afirmado historicamente que esse Dom, prometido a todos os crentes, é o poder para a missão”.
Byron D. Klaus ainda apresenta uma consideração interessantíssima feita pelo célebre missiólogo pentecostal Melvin Hodges, que declarou que os pentecostais recebem esse nome “porque acreditam que o Espírito Santo virá aos crentes nos tempos atuais assim como veio aos discípulos no Dia de Pentecostes. Um encontro desse tipo resulta na presença poderosa do Espírito, que passa a assumir a liderança. O resultado também inclui manifestações evidentes do seu poder para redimir e para levar a efeito a missão de Deus”.
Muito relevante é o pensamento de John V. York, que, na obra Missões na era do Espírito Santo, declara que o conceito de missão na perspectiva dos pentecostais é definido a partir de seis paradigmas que enfatizam a identidade pentecostal.
Para esse missiólogo, que deu 25 anos de sua vida na missão na África, o primeiro paradigma refere-se ao fato de que os pentecostais acreditam que o Espírito Santo tem sido derramado sobre a Igreja como um revestimento de poder para discipulado das nações.
Em segundo lugar, a experiência pentecostal resulta na convicção do pecado. Quando as igrejas não crescem, a abordagem pentecostal desse problema é mais freqüentemente espiritual do que metodológica: os crentes jejuam, oram e partem em busca dos perdidos em seu meio até que algo mude.
O terceiro paradigma é uma forte identificação com os pobres, os sofredores e os marginalizados da sociedade. Um quarto aspecto dos pentecostais reside no fato de que eles têm sido sempre o povo dos milagres. Para York, em geral, os pentecostais enxergam seu próprio movimento como algo que veio para corrigir: no sentido de restaurar na Igreja o senso do sobrenatural roubado pelo Iluminismo. E, nessa perspectiva, outro padrão é que os pentecostais esperam que haja crescimento. Outro aspecto do paradigma pentecostal de missões é um resgate efetivo do sacerdócio universal dos crentes. Uma última marca do modo de ser da missão pentecostal é a sua ênfase na centralidade da Bíblia como sendo a Palavra escrita de Deus.
Portanto, o conceito de Missões na perspectiva pentecostal é o que tem motivado o reavivamento e o crescimento das igrejas pentecostais ao redor do globo, especialmente nos países do Terceiro Mundo. Isso é um eloqüente testemunho de que a forma de entender a Grande Comissão, por parte do povo que tem se aberto para o enchimento do Espírito Santo, tem operado em grande parte promovendo o Reino de Deus pelos quatro cantos da Terra.
David Barret informa que o Movimento Pentecostal/Carismático cresceu de 16 milhões, em 1945, para 405 milhões, até 1990. Devemos glorificar a Deus, com humildade e com senso de responsabilidade por Jerusalém, por nossa Judéia, por nossa Samaria e até pelos confins da Terra, mas podemos ser motivados apenas pela verdade de que as dez maiores igrejas no mundo são pentecostais.
Em Cristo,Leonardo Araújo