sexta-feira, 17 de outubro de 2008

EVANGELISMO PESSOAL (Parte 1)

Introdução ao Evangelismo Pessoal

1. DEFINIÇÃO" DE EVANGELISMO PESSOAL

Evangelismo Pessoal é a obra de falar de Cristo aos perdidos individualmente: é levá-los a Cristo, o Salvador (Jo 1.41,42; At 8.30).

2. A IMPORTÂNCIA DO EVANGELISMO PES­SOAL

A importância vê-se no fato de que a evangelização dos pecadores foi o último assunto de Jesus aos seus discípulos antes de ascender ao céu. Nessa ocasião, Ele ordenou à Igreja o encargo da evangelização do mundo (Mc 16.15,19; At 1.8,9).

3. O ALVO DO EVANGELISMO PESSOAL

O alvo é tríplice: salvar os perdidos, restaurar os desviados e edificar os crentes. O irmão já experimentou o gozo que há em ganhar uma alma para Jesus? É uma bênção e uma experiência inesquecí­veis... Há um gozo inexplicável em vermos alguém no caminho para o céu, ou já na glória, por nosso in­termédio... Ganhar almas foi a suprema tarefa do Senhor Jesus aqui na terra (Lc 19.10; 1 Tm 1.15). Paulo, o grande homem de Deus, do Novo Testa­mento, tinha o mesmo alvo e visão (1 Co 9.20). Uma grande parte dos crentes pensa que a obra de ganhar almas para Jesus está afeta exclusivamente aos pregadores, pastores e obreiros em geral. Con­tentam-se em, comodamente sentados, ouvir os sermões, culto após culto, enquanto os campos es­tão brancos para a ceifa, como disse o Senhor da seara em João 4.35. O "ide" de Jesus para irmos aos Perdidos (Mc 16.15), não é dirigido a um grupo es­pecial de salvos, mas a todos, indistintamente, co­mo bem revela o texto citado. Portanto, a evangelização dos pecadores pertence a todos os salvos. Cada crente pode e deve ser um ganhador de almas. Nada o pode impedir, irmão, de ganhar almas para Jesus, se propuser isso agora em seu coração. A cha­mada especial de Deus para o ministério está reser­vada a determinados crentes, mas a chamada geral para ganhar almas é feita a todos os crentes.
O evangelismo pessoal, como já vimos acima, vai além do pecador perdido: ele alcança também o desviado e o crente necessitado de conforto, dire­ção, ânimo, auxílio e vitória. Ele reaviva a fé e a es­perança nas promessas das Santas Escrituras.

4. VANTAGENS DO EVANGELISMO PESSOAL

Aqui estão algumas:

4.1. Adapta-se às condições espirituais de qual­quer pessoa

O que o sermão não consegue fazer no auditório, na evangelização coletiva, o evangelismo pessoal o faz. Na evangelização em massa, a pregação não satisfaz a todos, porque cada um tem problemas es­pirituais diferentes. No evangelismo pessoal, a mensagem é direta, incisiva. Muitas vezes, a prega­ção apenas inicia a evangelização, que será comple­mentada com o contato pessoal do ganhador de al­mas.

4.2. Promove o crescimento da igreja

A igreja dos dias primitivos cresceu muito de­pressa porque os crentes, cheios do Espírito Santo, evangelizavam sem parar (At 5.42; 8.4). O resulta­do foi o maravilhoso crescimento registrado no livro de Atos dos Apóstolos. Hoje, também, a igreja que tiver um número regular de ganhadores de almas, seu crescimento será notório. A semeadura da Pala­vra de Deus promove o crescimento e a edificação da igreja. (Ver At 2.41,47; 4.4; 5.14; 9.31, e princi­palmente em 21.20.) A maior e melhor maneira de ajudar o pastor no crescimento do rebanho de Deus é ganhar almas individualmente. O irmão tem feito assim? Está fazendo assim? Se hoje, na igreja, cada um ganhasse outro, qual seria o resultado? Se todos ganhassem almas como você, qual seria o cresci­mento da igreja?

4.3.Vence todos os preconceitos

Há casos e ocasiões em que somente o evangelis­mo pessoal alcança o pecador. Há pessoas que ja­mais assistiriam reuniões evangelísticas em tem­plos, ou seja onde for, devido a preconceitos, falsa concepção, ignorância, ordens recebidas, imposi­ções religiosas, falsas informações, falsas idéias, etc. É aí que o evangelismo pessoal presta seus ser­viços de modo ímpar. Há inúmeras grandes igrejas por toda parte, que começaram através do evangelismo pessoal. A origem foi uma alma ganha, cultos em sua casa e em seguida uma congregação forma­da. O pioneirismo missionário na América Latina e o estabelecimento da obra das Sociedades Bíblicas também foi assim - através do evangelismo pessoal.

5. O MANUAL DO OBREIRO NO EVANGELIS­MO PESSOAL

É a Bíblia, é evidente. Ela é a Palavra de Deus, e, dele temos a extraordinária promessa: "Porque assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei" (Is 55.11 -vide também Sl 126.5,6; Rm 1.16; Tg 1.21b.)
Sabendo nós que a Bíblia é o manual do evange­lismo pessoal, é evidente que para termos êxito nes­ta obra, duas coisas precisamos considerar por en­quanto:
a. Na obra de ganhar almas emprega-se a Pala­vra de Deus (Jo 3.5; Rm 10.17; 1 Pe 1.23).
b. Para empregar a Palavra de Deus é preciso conhecê-la devidamente (2 Tm 2.15). A expressão "maneia bem", neste versículo, significa de fato dissecar, dividir ou cortar corretamente, como por exemplo, no preparo das vítimas para os diversos sacrifícios. Refere-se principalmente à correta apli­cação do texto e da mensagem de toda a Bíblia.

É fato reconhecido que é muito mais fácil falar a Palavra de Deus a uma multidão do que a uma só pessoa. Quem fala a um auditório não é interrompi­do para perguntas, apartes, argumentação, etc; já quem fala a uma só pessoa poderá vir a enfrentar tudo isso. Há pecadores que aceitam a mensagem da salvação sem objeções e sem argumentação, mas outros apresentam escusas tais, que, se o crente não conhecer devidamente as Escrituras, ficará em si­tuação vexatória.
É verdade que o Espírito Santo guia e inspira na obra de ganhar almas, mas no tocante às Escritu­ras, Ele só pode lembrar-nos daquilo que conhece­mos antes (Jo 14.26). não sei? que não ouvi? que não li? Que não aprendi? Por sua vez, o pregador ou ganhador de almas não é adivinhador de versículos... Muitos, a essa altura, firmam-se em Mateus 10.19,20 para declararem que, na hora precisa, o Espírito Santo dará tudo, mas é bastante o contexto da referida passagem (v.18), para ver a que ocasião Jesus se es­tá referindo. (Leia também, quanto a isto, Pv 9.9:1 Tm 4.13;1 Pe 3.15.)À Bíblia é a "espada do Senhor", mas também "de Gideão" (Jz 7.20). Isto é, ela é a arma que o Espírito Santo usa, mas o elemento que a conduz é o crente. Portanto, é im­perioso que o crente aprenda a manejar bem o Livro de Deus. Há crentes que até evitam falar de Jesus, por causa do seu pouco ou nenhum conhecimento das Escrituras.
No evangelismo pessoal, a doutrina principal é a de salvação da alma. É preciso que o crente co­nheça bem os textos, para apresentá-los à medida que a necessidade for exigindo. Não é um texto qualquer que vamos citar, mas aquele apropriado pura o momento, pois a Bíblia tem uma mensagem adequada para cada caso, cada coração, cada cir­cunstância. Não é abrir a Bíblia em qualquer lugar e dizer: "Vou ler esta passagem que o Senhor me deu", quando geralmente o Senhor não deu coisa nenhuma... O que é preciso é conhecer a Bíblia e depender do Espírito Santo. Assim sendo, Deus abre a porta, guia e dá a mensagem adequada e un­gida pelo seu Espírito.
É oportuno lembrar aqui que o Espírito Santo e a Palavra de Deus jamais se contradizem. Quem se julga espiritual deve conhecer e amar a Bíblia, e quem seguir a Bíblia, deve andar segundo o Espíri­to.
A razão por que muitos crentes chamados espi­rituais são cheios de meninices; são escandalosos e extremistas, é porque não estudam a Palavra, para nela aprenderem a ordenar seus passos. O que lhes falta é o conhecimento das doutrinas desse Livro. Ter o Espírito Santo e não conhecer a Palavra conduz ao fanatismo. Conhecer a Palavra e não ter o Espirito, conduz ao formalismo. Em religião, fa­natismo é zelo excessivo, paixão cega; é chamar ao certo, errado; e ao errado, certo. É ser extremista.É zelo sem entendimento (Rm 10.2). Se você deseja que o Espírito Santo o use, inclusive na obra de ga­nhar almas, procure ter o instrumento que Ele em­prega - a Palavra de Deus (Ef 6.17).

6. COMO DEVEMOS ESTUDAR A BÍBLIA - O MANUAL DO OBREIRO CRISTÃO

Aqui estão algumas maneiras:

6.1. Leia a Bíblia conhecendo o seu autor.

O primeiro passo para entender as Escrituras é conhecer o autor delas - Deus. Assim sendo, Ele no-las explicará (Sl 119.18,125; Lc 24.32,45; Jo 16.13).A melhor maneira de estudar a Bíblia é fazer como Maria - quedar-se aos pés do Autor (Lc 10.39).

6.2. A leitura diária, seguida e total da Bíblia.

É um dos segredos da vitória espiritual (Js 1.8b) a leitura sistemática e constante da Bíblia, ano após ano, pois constitui o contato direto e pessoal com a Palavra de Deus. Nada pode substituir esse aspecto da vida devocional do cristão, (vide Dt 17. 19: Is 34.16: Ap 1.3.) A leitura ocasional, irregular, não basta. Há crentes que só se alimentam espiri­tualmente quando alguém põe comida em sua bo­ca. É a colher do pastor, do professor da Escola Dominical, etc, etc. Não comem por si mesmos. Quando mudam de igreja, às vezes morrem de fo­me espiritual.
É muito bom ler bons livros, mas o máximo de tempo deve ser da Bíblia. Os livros são bons, mas não são substitutos da Bíblia. Nos livros, muitas vezes prevalece o individualismo do autor, mas na Bíblia não há este particular. Leiamos livros, mas tendo sempre a Bíblia como a autoridade principal e final. Ninguém fique preocupado, pensando que por ler muito a Bíblia vai esgotar seu conteúdo... Ela vem sendo lida por milhões de leitores através de milênios e nunca ficou esgotada. Seu conteúdo é inesgotável! Não há ninguém "formado" na Bíblia. Isto é uma das grandes evidências de sua origem di­vina.

6.3. Leia a Bíblia com a melhor atitude espiri­tual para com ela.

É de máxima importância que o estudante da Bíblia estude o Santo Livro com reverente atitude mental, tendo-a como a Palavra de Deus e não como uma obra literária comum. O autor da Bíblia é Deus. Seu assunto central é Cristo. Seu real intérprete é o Espírito Santo. Considerando-a sob esses pontos de vista, ela é o único livro cujo autor está sempre presente quando o lemos. Estude-a pois com espírito sequioso, devocional, receptivo, aber­to, buscando conhecer mais de Deus e seu amor. A atitude de que tratamos aqui inclui o prazer (Mc 12.37).

6.4. Leia a Bíblia com meditação e oração

Assim fez Davi, no que foi grandemente aben­çoado por Deus (Sl 119.12,40,64,68). É na presença do Senhor em oração, que as coisas secretas divinas são reveladas (Sl 73.16,17). Daniel orou e as Escri­turas lhe foram reveladas (Dn 9). Não convém ler depressa, sem prestar atenção ao sentido, que às vezes é bem claro, mas outras vezes demanda uma meditação mais demorada e profunda. Também é infrutífero fazer concorrência para estabelecer re­corde de leitura. É melhor ler pouco, meditando, do que ler às pressas, sem meditar. Quem lê às pressas não pode dizer como Samuel: "Fala, porque o teu servo ouve" (1 Sm 3.10).

6.5. Aplique a leitura da Bíblia primeiro a você mesmo

Nunca leia somente para instruir o próximo. Tome a Bíblia primeiro para a sua edificação. Há pessoas que, na leitura da Bíblia, tudo que é bên­ção, conforto, promessas, elas aplicam a si; tudo que é ameaça, exortação, avisos, repreensão, casti­go, aplicam aos outros. Quando ler a Bíblia irmão, pergunte sempre a Deus, como fez Josué diante do mensageiro celestial: "Que diz meu Senhor ao seu servo?" (Js 5.14).

6.6. Leia a Bíblia toda

A Bíblia é a revelação progressiva da verdade. Isto é, nada é dito duma vez, nem uma vez por todas. É comum um assunto começar num livro e daí prosseguir através de muitos outros, até que o as­sunto se complete. Por exemplo: a doutrina da Re­denção, vai do livro de Gênesis ao de Apocalipse. Não podemos entender uma carta recebida, lendo-a um pouco aqui, um pouco ali, mas, de modo com­pleto. A Bíblia é a carta de Deus à humanidade. Estudando-a toda, conhecemos todo o plano divi­no através dos séculos.
Não espere compreender a Bíblia toda. Leia Dt 29.29; 1 Co 13.12. Na Bíblia há dificuldades e mis­térios insondáveis, isto porque, sendo ela a Palavra de Deus, é inesgotável. É de se esperar que Deus saiba mais que o homem... Um Deus sobrenatural deve ter um livro sobrenatural. Uma mente finita, limitada e deficiente como a nossa, não pode abranger as coisas infinitas de Deus (Rm 11.33,34).
Muitos deixam de ler a Bíblia, e outros perdem o interesse nela só porque não compreendem tudo o que lêem. Ora, quando na refeição, encontramos osso, espinha ou qualquer coisa estranha, deixamos isso de lado e continuamos a comer. Façamos assim no tocante à Bíblia. Deixemos as dificuldades de lado e continuemos a comer. Quanto a este particu­lar, tenha-se em mente Sl 25.14; 1 Co 2.9-14.

6.7. Observações úteis e práticas no estudo da Bíblia

6.7.1.Apontamentos individuais.

Habitue-se a tomar notas de suas meditações na Palavra de Deus. A nossa memória falha com o tempo. Distri­bua seus apontamentos por assuntos.

6.7.2.Aprenda a ler e escrever referências bíbli­cas.

O sistema mais simples e rápido para escrever referências bíblicas é o adotado pela SociedadeBíblica do Brasil: duas letras abreviativas, sem ponto, para cada livro da Bíblia. Esse sistema cons­ta do índice das Bíblias editadas pela referida So­ciedade. Entre o capítulo e o versículo põe-se um ponto. Exemplos: Jo 2.4 (João 2.4); Jó 2.4; 1 Pe 5.5 (1 Pedro 5.5); Fp 1.29 (Filipenses 1.29); Fm v.14 (Filemon v.14), etc.

6.7.3.Diferença entre texto e referência.

Texto - são as palavras contidas numa passagem.
Referên­cia - é a indicação de livro, capítulo e versículo. Uma referência pode levar indicações como:

- "a" - indicando a parte inicial do versículo:Rm 1.17a.
- "b" - indicando a parte final do versículo: Rm 1.17b.
- "ss" - indicando os versículos que se seguem até o fim ou não, do capítulo: Rm 1.17ss
- "qv" - que veja, recomendação para não dei­xar de ler o texto indicado: Rm 1.17qv.

6.7.4. Siglas das diferentes versões da Bíblia em vernáculo.Isso poupa tempo e trabalho.

- ARC —Almeida Revisada e Corrigida. É o tex­to da Almeida antiga, impressa e distribuída pelaImprensa Bíblica Brasileira.
- ARA = Almeida Revisada e Atualizada. É o texto da Almeida revisada por uma comissão de eruditos brasileiros e estrangeiros, e editada pela Sociedade Bíblica do Brasil. Começou a ser publi­cada completa, em 1958.
- Fig. = Antônio Pereira de Figueiredo. Atual­mente é impressa e distribuída pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, Londres.
- M. Soares = Matos Soares. Versão popular dos católicos brasileiros.
- Rhoden = Huberto Rhoden. Versão particular desse padre brasileiro.
6.7.5. O tempo antes e depois de Cristo. É indi­cado pelas letras:

a.C. = Antes de Cristo. d.C. = Depois de Cristo.

6.7.6. Contexto.

É a parte que fica antes e de­pois da passagem que estamos lendo. Pode ser ime­diato ou remoto. O contexto pode ser um versículo,um capítulo, e até um livro todo.

6.7.7. Manuseio do volume sagrado.

Obtenha completo domínio no manuseio do volume sagrado, a fim de encontrar com rapidez qualquer referênciabíblica. Jesus fazia assim. Veja Lucas 4.17, onde está dito que Ele "achou" o lugar onde estava escri­to. Ora, naquele tempo isso era muito mais difícil do que hoje, quando dispomos de papel, editoras modernas e livros.
Em Cristo,Leonardo Araújo

Ler a seguir o artigo:"Um exame na obra do Evangelismo Pessoal"

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

ABRAÃO,O AMIGO DE DEUS - Gn 12.1-5

INTRODUÇÃO:

São muitos os exemplos de fé descritos na Bíblia, mas destaca-se, com especial tratamento, o de Abraão, o qual é denominado “pai da fé”. A palavra fé, do ponto de vista escriturístico, tem o significado básico de “fidelidade” (Dt 32.4; Sl 36.5; 37.3). Na verdade, o estudo da vida de Abraão é de grande valor pelo fato de ser ele o pai da nação eleita – Israel, e pai na fé de todos os que crêem em Deus. A sua chamada divina se reveste de um caráter especial, por ser o ponto de partida para a formação do povo que, em meio aos cananeus idólatras, serviria a Deus, como único, invisível e verdadeiro Deus.

I. A VIDA DE ABRAÃO ANTES DA SUA CHAMADA

Depois do juízo divino do Dilúvio e a confusão das línguas de Babel, os povos descendentes de Sem, Cão e Jafé espalharam-se sobre a face da terra. Conforme a genealogia de Abraão, sua descendência veio de Sem, a linhagem da promessa messiânica (Gn 11.10-26).

1. O primitivo nome de Abraão. Seu nome original Abrão (Gn 11.26) significava “pai elevado”, ou “pai das alturas”. Posteriormente, depois de uma aliança feita com o Deus Altíssimo, seu nome passou a chamar-se Abraão que significa “pai fecundo” ou “pai de uma multidão”(Gn 17.5).

2. Os ancestrais de Abraão. Abraão é descendente de Sem, um dos filhos de Noé, através de Tera (Gn 10.10,26), o décimo na linhagem genealógica que vem de Sem. A cidade de Ur, onde nasceu e viveu Abraão e sua família, ficava na antiga Sinar ou Suméria, situada a 160 kms a sudeste de Babilônia, junto à foz do rio Eufrates. Toda aquela região é hoje conhecida como Iraque.
O antigo nome da região, Sinar, vem de “Sin”, o “deus-lua” adorado naquela cidade. Logo, conclui-se que os progenitores de Abraão não conheciam o Deus verdadeiro; eram idólatras (Js 24.2,14,15). Como Abraão veio a conhecer o Todo-Poderoso, não está revelado.Como alguém já disse,certa feita:"Que eu não tenha voz,aonde a Bíblia se cala".

3. A esposa de Abraão, Sara (Gn 11.29-31; 12.5). Quando Deus ordenou a Abraão que saísse de sua terra e do meio de sua parentela, naturalmente, isso não significaria ele abandonar a sua esposa, então chamada Sarai. Ela estava inclusa no plano de Deus para ser a mãe de uma nação especial. O antigo nome dessa mulher, Sarai, significa “princesa”, mas após o encontro de Deus com Abraão, seu nome passou a ser simplesmente Sara, para denotar o seu futuro papel de “mãe de muitas nações” (Gn 17.15,16). Deus não separa casais, nem desfaz casamentos, isto acontece pela maldade humana, quebra da lei divina e pelo pecado, como Jesus deixou claro em Mateus 19.8. O Eterno quer que todos os cônjuges permaneçam unidos para o cumprimento dos seus desígnios.

II. A CHAMADA DE ABRAÃO

Deus chamou a Abraão do meio de um povo idólatra. Diz a Escritura que Ele mesmo apareceu a Abraão estando ele na casa de seus pais (At 7.2-4). Abraão vivia em um mundo corrupto e idólatra e daquele meio Deus o cercou de todas as promessas e pôs-lhe na frente um alvo supremo: ser o pai de muitas nações, e entre estas, uma seria especialmente designada pela presciência divina para ser a representante dos interesses do Altíssimo na terra.

1. A tríplice ordem de Deus a Abraão (Gn 12.1). Na Chamada de Deus a Abraão, há três determinações nas quais estão a essência do plano divino para ele.
A primeira foi: “Sai-te da tua terra”, isto é, Deus tinha uma outra terra, fértil e promissora para ele viver. A partida era indefinida e o lugar para onde ele iria era desconhecido por eles. O grande patriarca deveria partir, independente do desconhecimento dos detalhes. Na verdade, o que Deus queria era que Abraão partisse sem olhar para traz, ou sem pensar em retorno. A terra onde ele habitava seria um transtorno para os planos divinos. Sua saída de Ur dos Caldeus deveria ser para ele um desprendimento completo; uma renúncia total, material, social, e espiritual.
A segunda ordem de Deus foi: “Sai-te do meio da tua parentela”. Com exceção da sua esposa Sara, ninguém mais da família deveria acompanhá-lo naquela peregrinação à terra que Deus lhe havia designado. Mas Abraão, constrangido pela idade do seu velho pai Terá, decidiu levá-lo também. Ainda, um sobrinho muito ligado à família, chamado Ló, resolve unir-se ao patriarca na viagem. Esses laços familiares deveriam ter sido evitados para que Abraão e sua esposa não tivessem qualquer impedimento no caminho preparado por Deus.
Viajaram quase 1000 kms e chegaram a Harã. Ali o idoso Terá não pode mais prosseguir a jornada. Custou caro a Abraão cortar esses laços familiares. Ele deveria ter obedecido a Deus sem reservas e, então, sua viagem de fé teria o devido êxito.
A terceira exigência divina foi: “Vai para a terra que eu te mostrarei”. A terra prometida a Abraão estava muito além de Harã (Gn 17.8; At 7.4). A esta altura aprendemos uma lição preciosa. Quando Deus nos chama nada deverá nos prender a este mundo, porque Ele cuida de tudo.

2. Abraão vai para Harã e Siquém (Gn 12.4-8). Abraão acumulou riquezas em Harã, mas o seu coração não estava naquele lugar. Ele decidira fazer toda a vontade de Deus e partiu de Harã para Canaã, chegando a Siquém. Seu pai já havia morrido e nada mais o deteria em Harã. Sua fé em Deus lhe deu forças para prosseguir. Em Siquém, o Senhor lhe apareceu, reafirmou-lhe as promessas anteriormente feitas e mostrou-lhe toda a terra dos cananeus, a Canaã prometida.

3. Abraão muda de Siquém para Betel (Gn 12.8). Foi em Betel, “casa de Deus”, que Abraão edificou um altar ao Senhor. Agora, naquelas terras, Abraão sabia que, no tempo próprio, ele as teria como cumprimento das promessas divinas. Betel, daqui para a frente, sempre lembrará ao crente um lugar de oração, de encontro com Deus, de decisões importantes na vida espiritual.

III. O CARÁTER DA CHAMADA DE ABRAÃO

A chamada de Abraão tem caraterísticas valiosas para o nosso ensino. O Deus que chamou Abraão é o mesmo que continua chamando e convocando homens e mulheres para o cumprimento de seus desígnios.

1. A soberania de Deus. A soberania divina manifesta-se na vida de Abraão. Deus via nele o homem certo para cumprir sua vontade. Ao mesmo tempo, essa soberania manteve o livre-arbítrio de Abraão, o qual estava livre para obedecer ou não a convocação de Deus. Naturalmente, Deus pode escolher uma pessoa desde o ventre de sua mãe e investir nela o conhecimento de sua soberana vontade, mas entendemos que essa pessoa pode fugir ou desobedecer a vontade divina. No caso de Abraão, o texto de Neemias 9.7,8 deixa implícito seu caráter moral como requisito para a chamada divina.

2. A escolha de Abraão por Deus. Tenhamos em mente que Deus não faz acepção arbitrária de pessoas. Com Abraão Deus inicia uma dispensação especial, a dispensação da promessa e, dentro dessa dispensação, Deus seleciona e escolhe pessoas para cumprirem missões especiais. Abraão foi escolhido por Deus para ser pai de uma nação que o adoraria e representaria seus interesses na terra perante todas as nações. Primeiro Deus escolhe um homem, Abraão; depois, da sua semente, escolhe uma tribo, Judá e, dessa tribo, escolhe um rei, Davi; e através da descendência de Davi, Deus traz ao mundo, seu Filho Jesus, como o Verbo encarnado, para ser o Salvador do mundo.

CONCLUSÃO:

A chamada divina feita a Abraão coloca-o entre aqueles que Deus em sua presciência conhecia e, por isso, o escolheu para ser o homem a cumprir os seus desígnios. Abraão foi obediente à chamada divina e pautou toda sua vida pelo princípio de fazer a vontade de Deus.

Em Cristo,Leonardo Araújo.

MOISÉS,UM LÍDER EFICAZ - Êx 3.1-10


I.Os primeiros quarenta anos da vida de Moisés

O nome Moisés procede do verbo hebraico māshâ, "tirar" ou "extrair" (Sl 18.16). Moisés, no hebraico Mōsheh, surge no texto onomástico de Êxodo 2.10 como um trocadilho de meshîtihu: "e chamou o seu nome Moisés e disse: Porque das águas o tenho tirado [meshîtihu]".
Assim como afirmamos a respeito da mudança de nome de Sarai para Sara, podemos reafirmar também nesse contexto. A relação entre os nomes próprios e seu étimo é menor do que o contexto que o determina. Portanto, não é objetivo do literato apresentar o nome com base especificamente em sua raiz, mas no Sitz im Lebem, isto é, no contexto de vida ou vivencial do personagem.

II.Temperamento controlado por Deus

Entretanto, o nome não é mais importante do que o caráter do homem; e o fato crucial da passagem de Êxodo 2.10 não é a identidade do personagem, mas a preservação divina do pequeno Moisés. Isso facilmente é observado quando percebemos que nomes com a mesma raiz de mōsheh eram comuns no Egito. Os Faraós Thutmose, Ramsés são apenas dois nomes que podemos destacar imediatamente.
Diz Josefo que "mo" em língua egípcia, significa "água" e "isés", "preservado" (2005, p.140), razão pela qual o nome era comum entre eles.
O biblicista Victor Hamilton com muita propriedade afirma que "Moisés não é apenas quem ele é, mas também o que ele é. Seu nome é sua missão" (2006, p.158).
Ele recebe um nome que está relacionado tanto à sua vida quanto à vida de seu povo: ambos serão "tirados". Razão pela qual os argutos tradutores da Septuaginta traduziram o nome hebraico "Estes são os nomes", título hebraico do livro (Êx 1.1), por Êxodo, que significar "sair", "tirar", "extrair". Moisés não foi apenas "tirado" das águas, mas também seria aquele que "tiraria" o povo de Deus da escravidão do Egito.
Uma vez adotado, provavelmente pela rainha Hatshepsut (1504-1482 a.C.), filha de Totmés I e mulher de Totmés II, Moisés foi educado em toda "a ciência dos egípcios e era poderoso em suas palavras e obras" (At 7.22). Criado entre os príncipes, Moisés aprendera toda a ciência do Egito. Segundo o comentarista Antônio Neves de Mesquita, em uma de suas muitas obras, Moisés foi educado e versado em matemática, astronomia, geografia e ciências ocultas, morou com os sacerdotes e aprendeu todos os mistérios da religião egípcia (1980, p.98).
Josefo afirma que Moisés crescia e demonstrava muito mais espírito e inteligência que o permitido por sua idade: "Mesmo brincando, dava sinais de que um dia seria alguém extraordinário" (2005, p.140). A princesa fê-lo educar, afirma Josefo, "com grande desvelo, e quanto mais os hebreus se alegravam tanto mais os egípcios se atemorizavam" (2005, p.140). Afirma o historiador judeu, que Moisés foi ordenado general de todo o exército egípcio para lutar contra os etíopes que, aos poucos, invadiam e conquistavam as terras egípcias. Destacando-se como estrategista militar eficiente, acrescenta Josefo, que o Faraó invejou a Moisés e a fama do mesmo que percorria todo o Egito.

III-Moíses mata um egípcio

Porém, quando completou 40 anos, ao visitar os seus irmãos hebreus, Moisés mata um egípcio que maltratava um dos escravos hebreus (Êx 2.11,12).Moisés nessa época já houvera discernido a vontade de Deus para sua vida. Atos dos Apóstolos afirma que Moisés "cuidava que seus irmãos entenderiam que Deus lhes havia de dar a liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam" (7.25).Pouco tempo depois ao arbitrar e interferir na querela entre dois hebreus, Moisés descobre que o fato de ter matado um egípcio já se tornara assunto corrente. Temeu pela sua vida, e com muita razão, pois a lei que prevalecia nesse período era "olho por olho, dente por dente".Faraó soube do caso; sente-se traído por Moisés e decreta-lhe a morte (Êx 2.15).O literato da Epístola aos Hebreus vislumbra a fé de Moisés ao se retirar do Egito: "Pela fé, deixou o Egito, não temendo a ira do rei; porque ficou firme, como vendo o invisível" (11.27). Segundo o biblicista Charles Pfeiffer, "tentando redimir Israel à sua maneira e na sua hora, Moisés fracassou. Mas na hora de Deus ele foi chamado para libertar à maneira de Deus e pelo poder de Deus" (1990, p.70).

Continua ...

Referências Bibliográficas:
HAMILTON, V. P.
Manual do Pentateuco. Rio de Janeiro: CPAD, 2006.
JOSEFO, F.
História dos hebreus: de Abraão à queda de Jerusalém. Obra Completa. 9.ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2005.
MESQUITA, A.N. Povos e nações do mundo antigo: uma história do Velho Testamento. 3.ed., Rio de Janeiro: JUERP, 1980.
PFEIFFER, C.F.; HARRISON, E. Comentário bíblico Moody. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1990.

SARA,UMA MULHER SUBMISSA - Gn 12.4,5; 1 Pe 3.1-6


Introdução

A proposta deste artigo é refletirmos a respeito de algumas considerações pertinentes à vida de Sara, principalmente no que diz respeito aos seus atos como esposa. Iremos apresentar aqui a influência de Sara em algumas decisões de Abraão, entre elas, o da concubinagem com Agar.

Sara, seu nome seu destino

O substantivo próprio Sara, é uma transliteração do substantivo hebraico śārâ, cujo sentido literal é "princesa", "rainha" ou "dama da corte". É o feminino de śar, isto é, "príncipe".
O sentido, como é corrente em inúmeros textos onomásticos é imediatamente informado: "e será mãe das nações; reis de povos sairão dela" (Gn 17.16). O nome "Sarai", do hebraico śārây, e "Sara", ao que parece, são cognatos, isto é, possuem um étimo comum.

O sentido está muito mais no conceito estabelecido pelo próprio contexto do que no significado etimológico, uma vez que o sentido de śārây, segundo Strong, "dominadora", está no mesmo campo semântico de śārâ. Mas, assim como Abrão, "pai exaltado", tem seu nome alterado para "Abraão", "pai de uma multidão" (Gn 17.5), e com isto uma nova ênfase quanto ao destino e vida do patriarca, assim também em Sara é assinalado uma nova vida e missão. Sarai a estéril, será chamada e conhecida como "Sara, a mãe de reis e príncipes".
O nome Sara enfatiza a função e participação da mulher de Abraão nas promessas e alianças feitas ao patriarca. A bênção sobre Abraão também é dádiva graciosa sobre a vida de Sara.

O mesmo Deus que muda os nomes é o mesmo que transforma a história de vida e destino de seus filhos. O novo nome além de celebrar o pacto de Deus com Abraão, marca uma mudança de rumo na história dos povos. Reis e príncipes procedentes de Sara dirigirão a vida dos povos; o Messias, descendente de Abraão (Gl 3.16) regerá as nações hostis com vara de ferro (Sl 2).
Observe que em Gênesis 16.1 o nome Sarai aparece relacionado à esterilidade da mesma: "Ora, Sarai, mulher de Abraão, não lhe gerava filhos". Sob este nome estava condicionada a humilhação de esposa do patriarca. Embora "princesa", no que diz respeito à sua condição de mulher e de esposa, não era superior à condição da escrava egípcia, Agar:
“Disse Sarai a Abrão: Seja sobre ti a afronta que se faz a mim. Eu te dei a minha serva para a possuíres; ela, porém, vendo que concebeu, desprezou-me. Julgue o Senhor entre mim e ti. Respondeu Abrão a Sarai: A tua serva está nas tuas mãos, procede segundo melhor te parecer. Sarai humilhou-a, e ela fugiu de sua presença” (Gn 16.5,6 – ARA).

Voltaremos a esse episódio mais adiante, no entanto, aqui observamos que a condição de "princesa" da tribo era marcada pelo conflito de não gerar filhos.

Sarai e seu drama

O nome de Sarai está ligada ao drama da esterilidade (ver Gn 11.30), enquanto Sara à promessa da maternidade (cf. Gn 16.5,6; 17.15-22). Antes de tornar-se agraciada pela promessa divina, Sarai usou os recursos legais disponíveis para ludibriar a sua incapacidade física de gerar uma criança. Valendo-se de leis como as de Nuzi, ou de Hamurabi ,Sarai pensara que em Agar resolveria o problema da esterilidade.
Neste episódio observamos o quanto Sarai estava determinada a gerar uma criança, nem que para isso colocasse sua família em risco. Uma falha pela qual ela seria também lembrada.

As ações da mulher cristã também determinam o modo como será lembrada.
Por falta de discernir concretamente a vontade de Deus já apresentada a Abraão em Gênesis 15.1-6, Sarai convence seu marido a entrar em conúbio com a escrava Agar.
O discernimento espiritual deve ser uma prioridade; os problemas cotidianos não devem ofuscar a visão espiritual da mulher que crê. Percebemos neste fato o poder de argumentação de Sarai e a influência da mesma sobre o patriarca. Uma mulher ardilosa ou sábia pode alterar os rumos de uma família ou nação.
Sarai era uma mulher linda, porém ardilosa. A beleza é uma bênção, mas acompanhada de ardil é uma ferramenta austera (Et 2.2,16,17;5.1ss).
Lembremos que a Abraão o Senhor falou diretamente impedindo-o de fazer seu escravo como herdeiro e também lhe fez uma promessa a partir de seu descendente natural (Gn 15.1-6; 17.1-10). Diz a Bíblia que Abraão "creu no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça" (Gn 15.6; Gl 4.3), mas aqui observamos Sarai influenciando negativamente a fé do patriarca. Fato pelo qual Sarai lamentará profundamente. Sarai, como diz a nosso artigo, era uma mulher submissa, no entanto, não podemos deixar de considerar seu poder de persuasão sobre o patriarca.
Se Strong estiver certo quanto ao significado do nome śārây, "dominiadora", talvez nesse episódio possamos tirar tal conclusão.
Sarai era também uma líder na administração e organização dos escravos domésticos, razão pela qual escolheu friamente a escrava que seria concubina de Abraão.
Agar uma vez concebido e dado à luz uma linda criança, voltou-se contra Sarai, desprezando-a de sua condição de mulher e esposa. Pode ser que Agar pensasse que teria a primazia, pois estava gestante e não muito tempo depois seria mãe em lugar de sua senhora. Entretanto, a lei determinava que o filho seria entregue a Sarai, e esta, e não Agar, seria a mãe do menino. Com este ato Sarai comprometeu a linhagem santa e a descendência de Abraão; pôs em risco a promessa sobre a vida de Abraão.
Cansada de ser humilhada e não podendo vender Agar a qualquer tribo beduína ou a outro parente, Sarai age de conformidade com o Código de Hamurabi, que implicitamente concedia à senhora o poder de tratar a escrava com austeridade. O preço de sua incredulidade era "pago em suaves prestações" de dor, agravo, descontentamento e aborrecimentos.
O vocábulo hebraico ‘ānâ (Gn 16.6) traduzido por “humilhou” (ARA) ou “afligiu” (ARC) é a mesma que descreve o sofrimento dos judeus no Egito em Êxodo 1.11 o que pode significar que Sarai não apenas afligiu Agar verbalmente, mas também lhe dando atividades que não era capaz de executar, embora isso não descarte o espancamento ou a tortura física,mesmo Agar estando grávida.

A incredulidade é o atalho mais curto, porém o mais perigoso e doloroso. Neste episódio, Sarai, a despeito da vontade do patriarca ordena que expulse a escrava e o seu filho Ismael (Gn 21.14-21). Abraão resignado, consente (Gn 22.11). Deus manifesta-se ao patriarca, a fim de orienta-lo (Gn 22.12). Baseados nesse texto, afirma os exegetas hebreus que Sarai era melhor profeta do que Abraão!

Continua ...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O ENCONTRO DA MISERICÓRDIA COM A VERDADE


"A misericórdia e a verdade se encontraram...” (Sl 85.10)

Havia certo Pai de família, um Rei poderoso, que tinha quatro filhas.Uma se chamava Misericórdia; a segunda, Verdade; a terceira. Justiça; e a quarta, Paz; de quem se diz: "A Misericórdia e a Verdade se encontraram; a Justiça e a Paz se beijaram".
Ele tinha também certo Filho muito sábio, a quem ninguém se comparava em sabedoria. Tinha igualmente certo criado a quem havia exaltado e enriquecido com grande honra; pois Ele o fizera segundo sua própria semelhança e similitude, e isso sem mérito precedente por parte do criado. Mas o Senhor, como é o costume com tais mestres sábios, desejava prudentemente explorar e conhecer o caráter e a fé do seu criado, se este lhe era ou não digno de confiança. Assim Ele deu-lhe uma ordem fácil, e disse: "Se tu fizeres o que eu te digo, eu te exaltarei a maiores honras; se não, tu perecerás miseravelmente".
O criado ouviu a ordem, e sem demora, a infringiu. Por que preciso dizer mais? Por que preciso retardá-lo com minhas palavras e lágrimas?Este criado orgulhoso, obstinado, altivo e inchado de vaidade, buscou uma desculpa para sua transgressão e colocou toda a culpa no seu Senhor. Pois quando ele disse: "A mulher que me deste para estar comigo, me enganou",ele jogou toda a culpa no seu Criador. O seu Senhor, mais bravo por tal conduta contumaz do que pela transgressão da ordem, chamou quatro dos mais cruéis executores e ordenou que um deles o lançasse na prisão, que outro o estrangulasse, que o terceiro o decapitasse e que o quarto o afligisse com tormentos atrozes. Tão logo se oferecer ocasião, eu lhes darei o nome de cada um dos atormentadores.
Esses torturadores, estudando como pôr em execução a própria crueldade, levaram o miserável homem e começaram a afligi-lo com toda sorte de castigos. Mas uma das filhas do Rei. por nome Misericórdia,quando ouviu falar sobre este castigo do criado, correu apressadamente à prisão. Olhando para dentro e vendo o homem entregue aos atormentadores, não pôde deixar de ter compaixão dele, porque é sua característica ter misericórdia. Ela rasgou as roupas, bateu palmas e deixou o cabelo cair solto em torno do pescoço. Chorando e gritando, ela correu ao Pai e,ajoelhando-se diante dos seus pés, começou a dizer com voz séria e dolorosa: "Meu Pai amado, não sou eu tua filha Misericórdia? E tu não és chamado misericordioso? Se tu és misericordioso, tenha misericórdia de teu criado. Se tu não tens misericórdia dele, tu não podes ser chamado de misericordioso; e se tu não és misericordioso, tu não podes ter a mim, Misericórdia, como tua filha". Enquanto ela argumentava com o Pai, sua irmã, Verdade veio e perguntou por que Misericórdia estava chorando. "Sua irmã, Misericórdia", respondeu o Pai, "deseja que eu tenha piedade daquele transgressor orgulhoso, cujo castigo designei". A Verdade,quando ouviu isto, ficou muito irada e olhou duramente para o Pai. "Não sou eu", disse ela,"tua filha Verdade? Tu não és chamado verdadeiro? Não é verdade que tu estabeleceste uma punição para ele e o ameaçaste com a morte por tormentos? Se tu és verdadeiro, tu seguirás o que é verdadeiro:se tu não o seguires, tu não podes ser verdadeiro; se tu não és verdadeiro,tu não podes ter a mim, Verdade, como tua filha". Neste ponto, vocês percebem, "a Misericórdia e a Verdade se encontraram". A terceira irmã,isto é, a Justiça, ouvindo esta discussão, contenda, disputa e pleito, e convocada pelo clamor, começou a inquirir a causa da Verdade. E a Verdade, que só podia falar o que era verdadeiro, disse: "Esta nossa irmã, a Misericórdia, se é que ela deve ser chamada de irmã, visto que não concorda conosco, deseja que nosso Pai tenha piedade daquele transgressor orgulhoso". Então a Justiça, com um semblante bravo e meditando num desgosto que ela não tinha esperado, disse ao Pai: "Não sou eu a Justiça, tua filha? Tu não és chamado justo? Se tu és justo, tu exercerás justiça no transgressor; se tu não exerceres essa justiça, tu não podes ser justo; se tu não és justo, tu não podes ter a mim, Justiça, como tua filha". Então aqui estavam, de um lado, a Verdade e a Justiça, e de outro, a Misericórdia. A Paz fugiu para um país muito distante. Pois onde há discussão e contenda, não há paz; e quanto maior a contenda, para mais longe a Paz é afugentada.
Então, estando uma de suas filhas perdida, e as outras três em calorosa discussão, o Rei achou extremamente difícil encontrar uma maneira de determinar o que deveria fazer, ou para qual lado deveria inclinar-se. Pois se desse ouvidos à Misericórdia, Ele ofenderia a Verdade e a Justiça; se desse ouvidos à Verdade e à Justiça,não poderia ter Misericórdia por sua filha; e, não obstante, fazia-se necessário que Ele fosse misericordioso e justo, pacífico e verdadeiro. Havia grande necessidade de um bom conselho. Portanto, o Pai chamou seu Filho sábio,e o consultou sobre o assunto. Disse o Filho: "Dai-me, meu Pai, este presente assunto para conduzir, e eu castigarei o transgressor para ti,e trarei em paz para ti as tuas quatro filhas"."Estas são grandes promessas",respondeu o Pai, "se a ação concordar com a palavra. Se tu podes fazer o que dizes, eu agirei como tu me exortares". Tendo recebido o mandato real, o Filho levou consigo sua irmã Misericórdia. "Pulando montanhas, ignorando colinas",eles chegaram à prisão, e "olhando pelas janelas, olhando pelas grades", viu o criado encarcerado,barrado da vida presente,devorado pela aflição, e "desde a planta do pé até ao alto da cabeça não havia nele nada são". Fie o viu no poder da morte, porque por ele a morte entrou no mundo. Ele o viu devorado, porque, quando um homem está morto, ele é comido pelos vermes. E porque agora tenho a oportunidade de lhes falar, vocês saberão os nomes dos quatro atormentadores. O primeiro, que o colocou na prisão,é a Prisão da vida presente,da qual se diz:"Ai de mim,que sou constrangido a morar em Meseque". O segundo, que o atormentou, é a Miséria do mundo, que nos ataca com todos os tipos de dor c miséria. O terceiro, que o estava matando,é a Morte, que destrói e a tudo mata; o quarto, que o estava devorando,é o Verme... Então, o Filho, vendo o seu criado entregue a estes quatro atormentadores, não pôde senão ter Misericórdia dele, porque a Misericórdia era sua companheira, e irrompendo na prisão da morte,"conquistou a morte, amarrou o homem forte, tomou os seus bens" e distribuiu os espólios. E, "subindo ao alto, levou cativo o cativeiro e deu dons aos homens". Ele trouxe de volta o criado ao seu país, o coroou com duplicada honra e o vestiu com uma roupa de imortalidade. Ao ver tal coisa, Misericórdia não teve mais base de reclamação. A Verdade não achou causa de descontentamento, porque seu Pai foi achado verdadeiro. O criado havia pago todas as penas. A Justiça, de igual modo, não reclamou,porque fora executada a justiça no transgressor; e, assim,"aquele que tinha-se perdido,foi achado". A Paz, então,quando viu que suas irmãs estavam em concórdia, voltou e se uniu a elas. E agora, vejam que "a Misericórdia e a Verdade se encontraram; a Justiça e a Paz se beijaram".
Assim, pelo Mediador dos homens e anjos, o homem foi purificado e reconciliado,e a centésima ovelha foi trazida de volta ao aprisco de Deus. A este aprisco Jesus nos traz, a quem seja a honra e o poder para sempre. Amém. - Venerável Bede
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O VENERÁVEL BEDE nasceu em 672 e morreu em 735.Ele passou a maior parte da vida no mosteiro em Jarrow-on-Tyne. Sua obra mais notável.foi a História Eclesiástica da Nação Inglesa. Suas últimas horas foram gastas terminando a tradução para o vernáculo do Evangelho de João.Infelizmente, esta obra se perdeu.
Há imensa quantidade de sermões da Idade Média, mas poucos estão disponíveis em inglês. Os pregadores medievais não tinham dúvidas sobre o céu, o inferno,a alma e a obra redentora de Jesus Cristo.Diante da incerteza de muitos de nossos sermões modernos, é reconfortante estudar um sermão da Idade Média.
Como vemos no sermão pregado por Bede, havia muito da arte dos contadores de histórias nos sermões deste antigo pregador.