quarta-feira, 16 de julho de 2008

Missões: resultado de avivamento !

Que coragem! Enfrentar em sua geração (1792) um grupo de pastores que nem sequer reconhecia a relevância da Grande Comissão não foi tarefa fácil. Contudo, William Carey*(ver foto abaixo e à esquerda), considerado o Pai das Missões Modernas, não se intimidou e encarou a batalha.Sua paixão pelo Cordeiro e sua ousadia em defesa da pregação do evangelho o conduziram em tamanho confronto. Certamente não lhe faltaram argumentos, sua resposta à questão não se limitou a uma carta ou a um sermão.
Ele escreveu um livro de desafio missionário que não somente respondeu aos pastores, mas produziu grande impacto em sua época, dando início ao que nós conhecemos hoje como movimento moderno de missões.
Um dos aspectos que nos surpreende na experiência de Carey é que ele não começou defendendo a causa da Grande Comissão diante da liderança de um governo,de uma classe social ou de um grupo étnico, mas da liderança de uma igreja.
Não parece paradoxal alguém enfrentar um grupo de pastores a fim de convencê-los de que o evangelho deve ser anunciado aos perdidos?
Não é a Bíblia um livro missionário?
Não é a igreja uma agência do reino de Deus para o mundo?
De qualquer forma, a verdade é que um dos momentos mais marcantes do movimento moderno de missões aconteceu a partir de um confronto com uma liderança eclesiástica. Esse fato aponta para a evidência de que, em diversos momentos da história, convencer a Igreja de sua responsabilidade missionária tem sido um desafio maior do que convencer os povos de sua necessidade do evangelho.
Na verdade, o problema é antigo. Mesmo na experiência dos apóstolos, observamos que enquanto o centurião Cornélio estava pronto para obedecer à visão celestial e receber o evangelho:
"Agora pois estamos todos aqui presentes diante de Deus, para ouvir tudo quanto te foi ordenado pelo Senhor" (At. 10.33), a igreja primitiva ainda disputava se o evangelho deveria ou não ser anunciado aos gentios: "Ora, ouviram os apóstolos e os irmãos que estavam na Judéia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus. E quando Pedro subiu a Jerusalém, disputavam com ele os que eram da circuncisão" (At 11.1,2).
O que é mais intrigante é que se a natureza da Igreja é uma natureza missionária, parece não fazer sentido que se tenha que se conscientizar a Igreja de sua responsabilidade de pregar o evangelho aos perdidos. Diante desse contra-ponto somos conduzidos a outras interrogações:
O que faz a igreja se demonstrar indiferente diante da ordem divina para fazer discípulos de Cristo em todas as nações?
O que será que impede a igreja de se envolver na tarefa da evangelização mundial?
Certamente não é tarefa fácil tentar responder a todos esses questionamentos. Todavia, há mais de cem anos, Andrew Murray*(Ver foto abaixo e à direita), ao descrever a falta de envolvimento da igreja com o trabalho missionário, parece sintetizar o problema apontando para uma única resposta.
No livro A Chave Para o Problema Missionário ele defende que a razão central porque os cristãos não se envolvem com a causa missionária é a falta de avivamento. Na concepção dele, se não há comprometimento com Deus, o resultado é falta de comprometimento com missões: "O entusiasmo pelo reino de Deus está faltando. E isto é porque há tão pouco entusiasmo pelo Rei". No prefácio do mesmo livro, o pastor Edson Queiroz reforça a idéia apresentada por Murray e ao comentar sobre a vida espiritual de uma igreja ele observa: "Se tem vida, tem missões!" Considerando ainda o assunto, o pastor John Piper*(ver foto abaixo e à esquerda) defende também que onde quer que a paixão por Deus seja fraca o zelo por missões terá a mesma intensidade e vice e versa.
Desta maneira, o cerne do problema quanto à obediência da Igreja em relação à Grande Comissão não é outro senão de ordem espiritual. Isso nos garante que a tarefa de proclamação do evangelho aos povos não-alcançados somente se tornará uma realidade na vida da igreja, se ela for alvo constante do avivamento divino. Afinal, se não houver paixão pelo Cordeiro, como haverá paixão pela causa do evangelho?
Não restam dúvidas de que Deus é um Deus missionário, de que a Bíblia é um livro missionário e de que a igreja é a agência do reino de Deus para as nações. Entretanto, ao encarar os desafios missionários que Deus tem confiado à nossa geração precisamos rogar ao Pai que Ele nos limpe com a Sua Palavra, que nos preencha com Seu Espírito, que nos sustente com a Sua graça e que nos use entre as nações para a glória do Seu nome.
"Aviva, ó Senhor, a tua obra no meio dos anos; fazei que ela seja conhecida no meio dos anos" (Hb. 3.2).

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Nota:William Carey*,nasceu pobre na zona rural de Northamptonshire, no centro da Inglaterra, a 17 de agosto de 1761. Foi criado num lar anglicano e seu pai era tecelão e trabalhava num tear em sua própria casa.

A infância de Carey foi rotineira, exceto por problemas de alergia que o impediram de trabalhar como jardineiro. Em lugar disso, começou a trabalhar como sapateiro.

Aos dezessete anos foi convidado para ouvir uma pregação "não-conformista" e converteu-se. Aos 22 ou 23 anos dedicou-se ao estudo das Escrituras acerca do batismo e decidiu ser batizado como crente, por John Ryland Jr., no rio Nene, em 5 de outubro de 1783, tornando-se membro da igreja batista.

William Carey era um autodidata, apaixonado por lingüística botânica, história e geografia. Ele aprendeu latim, grego, hebraico italiano, francês, holandês,bengali, sânscrito, marathi, outras línguas orientais.

Uma página de seu diário dá a idéia de sua dedicação:

Leu a Bíblia em hebraico às 5h45 para sua devoção particular, realizou o culto doméstico em bengali às 7h, leu com um intérprete um escrito em marathi às 8h, trabalhou na tradução de um poema em sânscrito para o inglês às 9h, deu uma aula de bengali na Universidade às 10h, leu as provas do livro de Jeremias em bengali às 15h, traduziu o oitavo capítulo de Mateus para o sânscrito com o auxílio de um tradutor da Universidade às 17h, estudou um pouco a língua telinga às 18h, pregou em inglês para um grupo de oficiais britânicos e suas famílias às 19h30, traduziu o nono capítulo de Ezequiel para o bengali às 21h, escreveu cartas para a Inglaterra às 23h, e antes de dormir, ainda leu um capítulo do Novo Testamento em grego.

Para Carey, o que contava não era dar tempo integral à obra de Deus, mas dar dedicação integral. Apesar de não ter feito nenhum curso de primeiro e segundo graus, Carey recebeu o título de Doutor em Divindades da Brown University em 1807 aos 46 anos, e foi membro de três sociedades científicas com sede em Londres.

.Andrew Murray*,nasceu na Africa do Sul, em 9 de maio de 1828, e morreu em 1917. Seu pai era pastor vinculado à Igreja Presbiteriana da Escócia, que, por sua vez, mantinha estreita relação com a Igreja Reformada da Holanda, o que foi impor­tante para impressionar Murray com o fervoroso es­pírito cristão holandês. Andrew experimentou o novo nascimento aos 16 anos, na Holanda. Após isso, dedi­cou muito tempo, muitas madrugadas, a orar por um avivamento em seu país e a ler sobre experiências desse tipo ocorridas em outros países.
Foi para a Inglaterra com 10 anos e quando re­tornou para a Africa do Sul como pastor e evange­lista, levou consigo um reavivamento que abalou o país. Seu ministério enfatizava especialmente a ne­cessidade de os cristãos habitarem em Cristo. Isso foi despertado especialmente quando, ao voltar para a Africa, deparou-se com a grande extensão geográ­fica em que deveria ministrar. Aí começou a sentir necessidade de uma vida cristã mais profunda. Murray aprendeu suas mais preciosas lições espirituais por meio da Escola do Sofrimento, principalmente após uma séria enfermidade. Sua filha testificou que, após essa doença, seu pai manifestava "constante ternu­ra, serena benevolência e pensamento altruísta". Essa foi uma expressão de sua fé simples em Cristo e a Ele rendida.
Seu ministério, pela influência recebida do pai, foi caracterizado por profunda e ardente espirituali­dade e por ação social. Em 1877, viajou pela primeira vez aos Estados Unidos e participou de muitas con­ferências de santidade nos EUA e na Europa. Sua teologia era conservadora, e se opunha francamente ao liberalismo. Em seus livros, enfatizou a consagra­ção integral e absoluta a Deus, a oração e a santidade.
Durante os últimos 28 anos de sua vida, foi con­siderado o pai do Movimento Keswick da Africa do Sul. Muito dos aspectos místicos de sua obra deve-se à influência de William Law. Murray, assim como Law, Madame Guyon, Jessie Penn-Lewis e T. Austin-Sparks, experimentou o Senhor de forma muito profunda ese tornou um dos mais proeminentes no movimento da vida interior.
Foi acometido de uma infecção na garganta em 1879, a qual o deixou sem voz por quase dois anos. Foi curado dela na casa de uma família cristã em Lon­dres. Como resultado dessa experiência, veio a crer que os dons miraculosos do Espírito Santo não se limitavam à igreja primitiva. Para ele, uma das caracte­rísticas da vida vitoriosa era uma profunda e silencio­sa percepção de Deus e uma intensa devoção a ele.
Por crer no que Deus pode fazer por meio da obra de literatura, Murray escreveu mais de 250 li­vros e inúmeros artigos. Sua obra tocou e toca a Igre­ja no mundo inteiro por meio de escritos profundos, incluindo The Spirit of Christ (O Espírito de Cristo), The Holiest of All (O Mais Santo de Todos), With Christ in the School ofPrayer (Com Cristo na Escola de Oração), Abide in Christ (Habite em Cristo), Raising Your Childrenfor Christ (Criando Seus Filhos para Cris­to) e Humility (Humildade), os quais são considerados clássicos da literatura cristã.

.John Piper*,nasceu em 11 de janeiro de 1946,no Tennessee,EUA.É um escritor e ministro batista reformado, que atualmente serve como pastor sênior na Igreja Batista Bethlehem em Minneapolis,Minnesota.

Em Cristo,

Leonardo Araújo

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