quarta-feira, 15 de outubro de 2008

SARA,UMA MULHER SUBMISSA - Gn 12.4,5; 1 Pe 3.1-6


Introdução

A proposta deste artigo é refletirmos a respeito de algumas considerações pertinentes à vida de Sara, principalmente no que diz respeito aos seus atos como esposa. Iremos apresentar aqui a influência de Sara em algumas decisões de Abraão, entre elas, o da concubinagem com Agar.

Sara, seu nome seu destino

O substantivo próprio Sara, é uma transliteração do substantivo hebraico śārâ, cujo sentido literal é "princesa", "rainha" ou "dama da corte". É o feminino de śar, isto é, "príncipe".
O sentido, como é corrente em inúmeros textos onomásticos é imediatamente informado: "e será mãe das nações; reis de povos sairão dela" (Gn 17.16). O nome "Sarai", do hebraico śārây, e "Sara", ao que parece, são cognatos, isto é, possuem um étimo comum.

O sentido está muito mais no conceito estabelecido pelo próprio contexto do que no significado etimológico, uma vez que o sentido de śārây, segundo Strong, "dominadora", está no mesmo campo semântico de śārâ. Mas, assim como Abrão, "pai exaltado", tem seu nome alterado para "Abraão", "pai de uma multidão" (Gn 17.5), e com isto uma nova ênfase quanto ao destino e vida do patriarca, assim também em Sara é assinalado uma nova vida e missão. Sarai a estéril, será chamada e conhecida como "Sara, a mãe de reis e príncipes".
O nome Sara enfatiza a função e participação da mulher de Abraão nas promessas e alianças feitas ao patriarca. A bênção sobre Abraão também é dádiva graciosa sobre a vida de Sara.

O mesmo Deus que muda os nomes é o mesmo que transforma a história de vida e destino de seus filhos. O novo nome além de celebrar o pacto de Deus com Abraão, marca uma mudança de rumo na história dos povos. Reis e príncipes procedentes de Sara dirigirão a vida dos povos; o Messias, descendente de Abraão (Gl 3.16) regerá as nações hostis com vara de ferro (Sl 2).
Observe que em Gênesis 16.1 o nome Sarai aparece relacionado à esterilidade da mesma: "Ora, Sarai, mulher de Abraão, não lhe gerava filhos". Sob este nome estava condicionada a humilhação de esposa do patriarca. Embora "princesa", no que diz respeito à sua condição de mulher e de esposa, não era superior à condição da escrava egípcia, Agar:
“Disse Sarai a Abrão: Seja sobre ti a afronta que se faz a mim. Eu te dei a minha serva para a possuíres; ela, porém, vendo que concebeu, desprezou-me. Julgue o Senhor entre mim e ti. Respondeu Abrão a Sarai: A tua serva está nas tuas mãos, procede segundo melhor te parecer. Sarai humilhou-a, e ela fugiu de sua presença” (Gn 16.5,6 – ARA).

Voltaremos a esse episódio mais adiante, no entanto, aqui observamos que a condição de "princesa" da tribo era marcada pelo conflito de não gerar filhos.

Sarai e seu drama

O nome de Sarai está ligada ao drama da esterilidade (ver Gn 11.30), enquanto Sara à promessa da maternidade (cf. Gn 16.5,6; 17.15-22). Antes de tornar-se agraciada pela promessa divina, Sarai usou os recursos legais disponíveis para ludibriar a sua incapacidade física de gerar uma criança. Valendo-se de leis como as de Nuzi, ou de Hamurabi ,Sarai pensara que em Agar resolveria o problema da esterilidade.
Neste episódio observamos o quanto Sarai estava determinada a gerar uma criança, nem que para isso colocasse sua família em risco. Uma falha pela qual ela seria também lembrada.

As ações da mulher cristã também determinam o modo como será lembrada.
Por falta de discernir concretamente a vontade de Deus já apresentada a Abraão em Gênesis 15.1-6, Sarai convence seu marido a entrar em conúbio com a escrava Agar.
O discernimento espiritual deve ser uma prioridade; os problemas cotidianos não devem ofuscar a visão espiritual da mulher que crê. Percebemos neste fato o poder de argumentação de Sarai e a influência da mesma sobre o patriarca. Uma mulher ardilosa ou sábia pode alterar os rumos de uma família ou nação.
Sarai era uma mulher linda, porém ardilosa. A beleza é uma bênção, mas acompanhada de ardil é uma ferramenta austera (Et 2.2,16,17;5.1ss).
Lembremos que a Abraão o Senhor falou diretamente impedindo-o de fazer seu escravo como herdeiro e também lhe fez uma promessa a partir de seu descendente natural (Gn 15.1-6; 17.1-10). Diz a Bíblia que Abraão "creu no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça" (Gn 15.6; Gl 4.3), mas aqui observamos Sarai influenciando negativamente a fé do patriarca. Fato pelo qual Sarai lamentará profundamente. Sarai, como diz a nosso artigo, era uma mulher submissa, no entanto, não podemos deixar de considerar seu poder de persuasão sobre o patriarca.
Se Strong estiver certo quanto ao significado do nome śārây, "dominiadora", talvez nesse episódio possamos tirar tal conclusão.
Sarai era também uma líder na administração e organização dos escravos domésticos, razão pela qual escolheu friamente a escrava que seria concubina de Abraão.
Agar uma vez concebido e dado à luz uma linda criança, voltou-se contra Sarai, desprezando-a de sua condição de mulher e esposa. Pode ser que Agar pensasse que teria a primazia, pois estava gestante e não muito tempo depois seria mãe em lugar de sua senhora. Entretanto, a lei determinava que o filho seria entregue a Sarai, e esta, e não Agar, seria a mãe do menino. Com este ato Sarai comprometeu a linhagem santa e a descendência de Abraão; pôs em risco a promessa sobre a vida de Abraão.
Cansada de ser humilhada e não podendo vender Agar a qualquer tribo beduína ou a outro parente, Sarai age de conformidade com o Código de Hamurabi, que implicitamente concedia à senhora o poder de tratar a escrava com austeridade. O preço de sua incredulidade era "pago em suaves prestações" de dor, agravo, descontentamento e aborrecimentos.
O vocábulo hebraico ‘ānâ (Gn 16.6) traduzido por “humilhou” (ARA) ou “afligiu” (ARC) é a mesma que descreve o sofrimento dos judeus no Egito em Êxodo 1.11 o que pode significar que Sarai não apenas afligiu Agar verbalmente, mas também lhe dando atividades que não era capaz de executar, embora isso não descarte o espancamento ou a tortura física,mesmo Agar estando grávida.

A incredulidade é o atalho mais curto, porém o mais perigoso e doloroso. Neste episódio, Sarai, a despeito da vontade do patriarca ordena que expulse a escrava e o seu filho Ismael (Gn 21.14-21). Abraão resignado, consente (Gn 22.11). Deus manifesta-se ao patriarca, a fim de orienta-lo (Gn 22.12). Baseados nesse texto, afirma os exegetas hebreus que Sarai era melhor profeta do que Abraão!

Continua ...

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